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Depressão pós-parto - Texto publicado no Jornal O Povo (06/09/2016)



A mãe direciona o olhar para o filho recém-nascido e a imagem do pequeno vagueia indefinida pela mente: sem cor, sem calor, sem vida; os sentimentos maternais esperados inexistem, sendo incapazes de despertar o afeto e a empatia por aquele frágil ser. O antes esperado bebê torna-se agora, no período do pós-parto, um estrangeiro à configuração familiar prévia. Noites insones embaladas pelo interminável choro infantil. A mamada dolorosa que a nutriz não consegue prover. A sobrecarga física e mental aparenta ser perene e traz a certeza de que o júbilo da maternidade transformou-se inadvertidamente em sofrimento lancinante.

 

Parece antinatural esse conjunto de vivências no período do pós-parto, mas se trata de um problema de grandes proporções e que afeta no nosso meio entre 10% a 15% das mulheres que acabam de ter bebê. É a depressão pós-parto, um subtipo de depressão iniciada até quatro semanas após o término da gestação. Os sintomas habituais são: humor intensamente entristecido, perda do prazer pelas atividades habituais, alterações do sono e do apetite, pensamentos de incapacidade quanto à maternidade, sentimento de rejeição e desconexão em relação ao bebê. Nos casos mais graves, podem ocorrer ideias e ações suicidas.


Além do imenso sofrimento causado, sabe-se que mães com depressão pós-parto ficam mais desconectadas dos companheiros e de toda a rede social de apoio. Desse modo, aqueles que eram pretéritas fontes de amor passam a se distanciar, privando a mulher ainda mais de cuidados e afetos positivos. Não podemos esquecer as gigantescas consequências negativas para a evolução das crianças, que têm um comprometimento maior no desenvolvimento na inteligência, além das habilidades motoras e sociais.


É fundamental fomentar intervenções em saúde mental eficazes no tratamento da condição. Com esse objetivo, é oferecido na Maternidade Escola Assis Chateaubriand (Meac) o Psicomater, um serviço destinado ao tratamento não somente de mulheres no pós-parto com condições psiquiátricas, mas também das gestantes que sofrem de tais transtornos. Tem equipe composta por profissionais da psiquiatria, psicologia, serviço social, terapia ocupacional e enfermagem. Apenas com intervenções amplas e integradas, tais como a descrita, é possível trazer de volta a exultação da maternagem, missão libertadora que, enfim, as mães poderão abraçar - desta vez, livres da depressão.


Link:


http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2016/09/06/noticiasjornalopiniao,3656908/depressao-pos-parto-como-enfrentar-e-superar.shtml


Depressão pós-parto



Seguem links para entrevistas sobre depressão pós-parto e outras patologias ligadas ao período perinatal, fornecidas ao canal do YouTube Marias na TV.


https://www.youtube.com/watch?v=IPZTMlhxlpU

https://www.youtube.com/watch?v=QZe3H-OB2I8



Higiene do Sono



Um sono de qualidade é requisito fundamental para promover uma boa saúde mental às pessoas. Impacto negativo no sono pode ser decorrente não só de transtornos psiquiátricos, tais como quadros do humor e de ansiedade, entre outros, mas como também de maus hábitos em relação à regularidade, frequência e cronologia no ciclo sono-vigília.


Assim, a higiene do sono mostra-se como uma intervenção psicoeducacional, não farmacológica, sendo parte complementar, mas não menor importante, do tratamento. Hábitos de vida podem impactar sobremaneira na qualidade e quantidade do sono, levando a condicionamentos prejudiciais no mesmo. Tais técnicas em alguns casos podem até mesmo prevenir o uso de psicofármacos, ou seja, evitar que o uso de uma medicação com fins hipnóticos seja utilizada.


Dessa forma, fazem parte das orientações de higiene do sono as seguintes considerações:


1) Estabelecimento de horários regulares de sono diariamente;

2) Não ir para cama sem sono e tentar adormecer. Apenas deitar quanto já estiver bastante sonolento: a cama deve ser um lugar preferencialmente exclusivo para dormir, evitando usá-la para assistir TV ou outras atividades que não sejam o sono.

3) Não passar o dia preocupando-se com a hora de dormir e não controlar o passar das horas no relógio: quanto mais se preocupar com o sono maior a chance de o organismo ficar hiperalerta, prejudicando ainda mais o mesmo;

4) Evitar ingestão de substâncias estimulantes (café, cigarro, drogas, chá-preto, bebidas à base de cola e chocolate);

5) Evitar consumo de álcool, excesso de líquidos e refeições pesadas antes de dormir (procurar jantar comidas leves até duas horas antes de dormir);

6) Realizar atividades físicas regularmente, evitando-as no período noturno;

7) Tentar dormir em condições de conforto (avaliar temperatura, nível de ruído, ergonomia do colchão, organização do quarto).


Até o próximo artigo!


Dr. Igor Emanuel


Depressão - 03/03/2013


É uma doença muito comum no dia-a-dia e a sua frequência tem aumentado drasticamente nos últimos anos. Ela afeta milhões de pessoas a cada ano, independentemente da idade, do sexo, da raça, da religião e das condições econômicas e sociais. Um episódio depressivo, se não tratado corretamente, pode durar meses a anos, acarretando consequências graves, como a perda da produtividade no trabalho, isolamento social e dificuldades nos relacionamentos pessoas e familiares. Não é necessária a apresentação de todos os sintomas para caracterizar um episódio depressivo. Portanto, é muito importante sempre procurar assistência médica quando for identificar alguns destes sintomas em você e em outras pessoas.


Diagnóstico: Deve sempre ser feito após uma avaliação psiquiátrica detalhada, como avaliar os fatores desecandeantes ou precipitantes possíveis para o episódio depressivo, assim como solicitar exames complementares para avaliar se estes sintomas depressivos podem ser secundários a uma doença clínica. Lembre-se: muitas doenças clínicas mal controladas (como as de tireoide) ou uso de medicações de modo inadequado (como aqueles à base de anfetamina para emagrecer) podem simular sintomas depressivos. A avaliação psiquiátrica detalhada pode ajudar ainda a identificar outros problemas comuns ao paciente com depressão, como os transtornos de ansiedade e uso de bebidas alcoólicas ou drogas ilícitas. Vale lembrar que depressão não é sinônimo de tristeza, esta um fenômeno emocional normal na vivência humana, enquanto aquela é um transtorno psiquiátrico maior, com suas respectivas alterações neurobiológicas, impactos psicossociais/funcionais, e a necessidade de tratamento correlato. Apenas a partir de uma avaliação psiquiátrica minuciosa é possível a caracterização das vivências afetivas a seguir como fisiológicas ou psicopatológicas:


1) Humor deprimido ou irritável a maior parte do dia, quase todos os dias;

2) Perda de interesse ou do prazer por atividades que antes eram agradáveis durante a maior parte do dia, quase todos os dias;

3) Mudanças súbitas no apetite ou no peso, sem explicação (tanto a redução quanto o ganho de peso);

4) Mudanças no padrão de sono, sem explicação (insônia ou necessidade de sono aumentada);

5) Agitação ou prostração (observado pelos outros);

6) Sensação constante de fadiga ou perda de energia;

7) Falta de iniciativa;

8) Sentimentos frequentes de baixa autoestima, de culpa e remorso;

9) Dificuldade de concentração ou para tomar decisões;

10) Dificuldade de memória;

11) Pensamentos frequentes sobre morte ou suicídio.


Tratamento:
Mais de 80% dos paciente melhoram com o tratamento adequado. Os principais incluem uso de medicações antidepressivas e a psicoterapia. Diversos estudos mostram que a associação de medicamentos e a psicoterapia trazem maior eficácia ao tratamento. Existem diversas medicações antidepressivas, sendo que as mais modernas são, além de eficazes, seguras e bem toleradas. As classes mais comuns de antidepressivos são os psicofármacos tricíclicos (p.ex.: amitriptilina, nortriptilina e imipramina), os inibidores seletivos da recaptação serotonina (ISRS - p.ex.: fluoxetina, sertralina, paroxetina, citalopram) e os inibidores duais da recaptação de serotonina-noradrenalina (p.ex.: venlafaxina, desvenlafaxina e duloxetina). É importante lembrar que nenhum antidepressivo causa vício ou dependência, mesmo se usados em doses elevadas e por muito tempo. Qualquer medicação leva algumas semanas para começar a fazer efeito (em geral, duas). Portanto, pacientes e familiares devem ter calma e não desistirem do tratamento enquanto ele não estiver dando efeito. Confira algumas recomendações muito importantes durante o tratamento: seguir as orientações médicas quanto ao uso das medicações; ter uma rotina de horários e atividades; manter hábitos saudáveis de vida; fazer atividades físicas regulares; evitar bebidas alcoólicas e fazer atividades que dão prazer. Por quanto tempo tratar o episódio depressivo? A resposta a tal questionamento depende de cada caso, o que confere uma personalização ao tratamento, a depender da gravidade e recorrência de casa sintomatologia. Entretanto, no caso de episódio único tem-se como parâmetro a ilustração a seguir:


Tratamento da Depressão




Até o próximo artigo,


Dr. Igor Emanuel



 Transtorno do pânico - 03/03/2013


É um transtorno mental que afeta duas em cada cem pessoas. Tem início geralmente em torno dos 25 anos de idade, sendo mais frequente em mulheres. Caracteria-se pela presença de ataques de pânico recorrentes, um conjunto de manifestações intensas de ansiedade, com início súbito, rico em sintomas físicos e com duração autolimitada em torno de dez minuitos. No início, os ataques ocorrem sem qualquer fator desencadeante. Após certo tempo podem surgir a partir de alguma situação que provoca maior ansiedade no indivíduo.


Diagnóstico: No exame, será investigada a presença de ataques de pânico recorrentes e inesperados. Eles são caracterizados como episódios súbitos de medo intenso e sensação de morte ou de estar perdendo o controle, associados a palpitações, falta de ar ou opressão no peito, tonturas e formigamento por todo o corpo, náuseas, vômitos, tremores, sensação de frio ou calor. Além disso, o indivíduo passa a ter medo de novos ataques, evitando situações que causam ansiedade. Interessante ressaltar que nem todo ataque de pânico indicará o transtorno de pânico, pois o sintoma pode ocorrer ainda em outras síndromes ansiosas, depressão, etc. Sintomas decorrentes de condições clínicas também podem simular ataques de pânico. Apenas o psiquiatra poderá fazer essa distinção adequadamente.


Tratamento: Feito pelo uso de medicações antidepressivas e ansiolíticas. A psicoterapia também é fundamental no tratamento. A combinação de ambos tratamentos citados costuma ter uma melhor efetividade. Quando o transtorno é identificado precocemente e tratado, a possibilidade dos sintomas se cronificarem diminui bastante. Dessa forma, evita-se, por exemplo, a incidência de sintomas como a agorafobia, ou seja: a evitação de locais públicos por medo intenso de ter novas crises nesses espaços.


Até o próximo artigo,


Dr. Igor Emanuel



Dependência de psicofármacos: mitos e verdades - 18/03/2013


Uma das perguntas com as quais mais me deparo na prática psiquiátrica diária é o questionamento se os psicofármacos trazem determinado grau de dependência. Ora, há que se fazer várias considerações para clarificar a questão, pois uma resposta simples pode levar a equívocos, como em quase tudo que concerne à saúde mental.


A primeira situação a trazer, antes de qualquer coisa, é o conceito de dependência: trata-se de padrão de uso prejudicial de substâncias psicoativas, com diversas características associadas: tolerância, ou seja aumento progressivo da quantidade utilizada, com fins de manutenção da obtenção dos efeitos psicoativos esperados da droga, sensações estas que deixam com o tempo de incidir nas doses mais baixas; presença de síndrome de abstinência, a incidência sintomas e sinais físicos diversos, tais como irritabilidade, ansiedade, dificuldade para se concentrar, tremores e sudorese; padrão de uso exagerado, maior que o pretendido a priori; consumo da substância a despeito das diversas consequências perniciosas na vida, etc.  Essas são apenas algumas características citativas para bem ilustrar o que conceitualmente é a dependência química em si.


A consideração seguinte é que há, sim, potencial de dependência por parte de algumas medicações, a partir do que se conceituou há pouco. A classe de medicação mais conhecida por esse risco é a dos benzodiazepínicos, as famosas prescrições de receituário azul ou "tarja preta". São fármacos da maior importância, utilíssimos, com capacidade de diminuir a ansiedade e ajudar na conciliação do sono, mas detem esse indubitável risco quando utilizados de forma prolongada, sem critérios e indicações precisas, como por exemplo no autotratamento. Não é por acaso que necessitam de prescrição em receituário específico, com maior controle por parte de órgãos reguladores. No que tange aos demais fármacos não há risco de "vício", ou mais amiúde: antidepressivos, antipsicóticos, estabilizadores do humor, entre outras classes, não causam efetiva dependência.


"Então Doutor, por que não consigo retirar minha medicação? Sinto tanta coisa quando tiro...". A resposta é simples, mas não tão singela que não possa comportar duas possibilidades de esclarecimento. O primeiro caminho a ser percorrido trata-se de citar e conceituar sobre a síndrome de retirada. Tal condição caracteriza-se como a incidência de sintomas ocorridos após retirada abrupta de uma medicação, achados estes que podem variar amplamente (insônia, irritabilidade, ansiedade, etc). Ocorre o surgimento desses fenômenos desagradáveis devido à manipulação da bioquímica cerebral quando tal órgão está exposto ao uso de psicofármacos. Em outras palavras: para uma medicação atuar com eficácia ela deve modular uma série de substâncias cerebrais, via de regra denominadas neurotransmissores, promovendo alterações funcionais do sistema nervoso central. É de se esperar que essa nova conformação neurobioquímica já esteja equilibrada no cérebro com o tratamento de longo prazo, o que levaria a dificuldade na cessação imediata do fármaco. Dessa forma, substâncias utilizadas por muito tempo devem apenas ser descontinuadas de forma progressiva e mediante recomendação médica, de modo que haja tempo para que a maquinaria neuronal possa encontrar um novo estado de equilíbrio sem a medicação.


Pode o paciente, ainda instatisfeito, retrucar: "Ora Doutor, mas isso não é síndrome de abstinência, componente da dependência?". Fundamentalmente não. Primeiro que na síndrome de abstinência há verdadeira e imperativa urgência para o consumo da droga de abuso, pois o organismo sente inequivocamente falta dela, enquanto que na síndrome de retirada a urgência é mais como um grito de alerta do organismo, que pede tempo para a adequação ao novo estado de equilíbrio. Situação semelhante acontece com alguns tipos de medicamentos, normalmente não relacionados ao estigma do "vício", tal como a clonidina, um antihipertensivo de ação no sistema nervoso central, que se retirado de forma brusca pode levar a um quadro de aumento grave da pressão arterial, chamado hipertensão de rebote.


Segundo argumento que se lança é que junto com a síndrome de abstinência há todo um cortejo de fenômenos relacionados à legítima dependência, a saber: tolerância para os efeitos psicoativos; uso compulsivo em grandes quantidades; dificuldade de controlar o uso apesar dos prejuízos causados; limitação de outras atividades pelo uso da substância, etc. Ninguém escuta falar por aí sobre pessoas que passaram a utilizar 30 comprimidos de fluoxetina para "ficar alto", com dificuldade de cortar o consumo e que limitaram a vida social/recreativa/laboral para ficar ingerindo, tresloucadamente, uma pílula após a outra. Pode-se ainda citar, sinteticamente, um outro argumento mais técnico para diferenciar síndrome de retirada de síndrome de abstinência. Esta acontece por influência direta das drogas de abuso em um sistema chamado sistema de recompensa, que envolve uma substância chamada dopamina, com atuação em estruturas de nomes complexos (p.ex.: área tegmental ventral, núcleo accumbens). Já aquela síndrome opera por outros mecanismos diversos, que não cabem ao escopo atual esmiuçar.   


Para responder de forma inconteste à pergunta inicialmente trazida ("Então Doutor, por que não consigo retirar minha medicação?"), traz-se por último a explanação, quiçá, de maior relevância. O fato é que muitos transtornos mentais são crônicos, recorrentes e, portanto, necessitam de tratamento de longo prazo. Assim, retirada a medicação pode-se apresentar reagudização dos sintomas da doença para o qual o tratamento foi instituído. Essa reiteração sintomática é fator complexo e demandaria um texto específico para melhor delineamento dessa questão. Por hora, limito-me a utilizar um paradigma também assentado na hipertensão arterial sistêmica, seguindo a linha de raciocínio anteriormente explicitada. Pergunto: o que acontece com um paciente hipertenso, portador de uma doença também crônica, assim como aquelas psiquiátricas, se parar o seu medicamento? É certo que irá ter um pico hipertensivo, um descontrole da condição de base para o qual estava sendo tratado. O mesmo exemplo pode ser extraído de um paciente diabético que cessa o seu fármaco antidiabético. E vou além, com um exemplo tão habitual quanto esquecido: o óculos que você, caro paciente, utiliza faz parte do mesmo rol de exemplos. O déficit de acuidade visual é condição crônica, apenas curável por cirurgia e de controle definitivo limitado a alguns casos, e que necessita de uma lente corretiva para melhoria da visão. Retirada a lente, retorna o problema. Resguardada as devidas proporções, tratam-se de raciocínios semelhantes.


Por fim, fica a seguinte reflexão. O que é difícil, na verdade, é aceitar e assumir que se padece de uma doença de longo prazo, potencialmente grave quando não devidamente cuidada, e que muitas vezes pode necessitar de um tratamento demasiado prolongado. Essa dificuldade torna-se ainda mais pungente quando se considera que muitos transtornos psiquiátricos acometem pessoas na adolescência e início da fase adulta. Mais fácil que aceitar um diagnóstico, e lidar com as consequências negativas que dele emanam (estigma, exames complementares, medicamentos, custos, etc), é culpabilizar os fármacos que nenhum potencial de dependência trazem. A humanidade fez isso durante toda a sua história (é um fenômeno psicológico habitual, adaptativo até): desresponsabiliza-se por suas dificuldades e problemas, projetando em outrem, ou em algo, a explicação hipotética para estas limitações.


E você, também acha que está dependente de seu óculos?



Até o próximo artigo,


Dr. Igor Emanuel


Transtorno de ansiedade generalizada - 01/05/2013



É um transtorno de ansiedade comum, que afeta aproximadamente três em cada cem pessoas. Caracteriza-se por um excesso de ansiedade e intensa preocupação frente às mais diversas tarefas diárias, como o trabalho profissional, questões familiares e afetivas. O indivíduo acometido reconhece como desproporcionais e exageradas essas preocupações, porém tem dificuldade no controle das mesmas. São comuns presenças de sintomas de cunho psíquico (antecipação exagerada de situações futuras, sobravalorização do perigo, senso de responsabilidade exagerado, pensamentos acelerados e desconcentrados, etc) e somático (tensão muscular, dor corporal, taquicardia, opressão torácica, sintomas de mal estar do trato gastrointestal, etc). 


Muitas pessoas relatam que sempre foram nervosas, mas geralmente os sintomas aparecem mais na adolescência. A doença é crônica, embora as queixas flutuem ao longo do tempo com piora nos momentos de maior estresse ao longo da vida.


Diagnóstico: No exame será avaliada a presença dos segiuintes sintomas: ansiedade e preocupação antecipatória excessivas, sensação de estar em constante tensão, cansaço fácil, dificuldade de concentração, irritabilidade, tensão muscular, dificuldade em cair no sono ou manter-se dormindo. Esses sintomas interferem na vida da pessoa, atrapalhada o trabalho e o relacionamento social. Um conjunto de sintomas deve prevalecer por pelo menos seis meses, de forma impactante, de modo a ser possível a separação entre uma ansiedade fisiológica, fruto da existência humana normal, e uma patológica.


Tratamento: Feito pelo uso de medicações antidepressivas e ansiolíticas. A psicoterapia também é fundamental no tratamento, pois há estilos e formas de pensar problemáticos que podem se solidificar com a prevalência do transtorno, causando dificuldade em lidar com a ansiedade. Quando o transtorno é identificado precocemente e tratado, a chance dos sintomas se cronificarem diminui bastante.


Até o próximo artigo,

Dr. Igor Emanuel


Fobia Social ou Transtorno de ansiedade social - 01/05/2013


Caracteriza-se pelo medo exagerado de se expor ao olhar e ao julgamento das outras pessoas, mesmo em grupos relativamente pequenos. Esse temor pode fazer com que a pessoa passe a evitar situações sociais diversas. O medo e a preocupação ocorrem de forma excessiv em situaçãos nas quais a pessoa receia ser alvo do julgamento de terceiros. É como se estivesse sendo julgado pelo que faz, ou mesmo pela possibilidade de que percebam suas fraquezas ou mesmo o seu estado apreensivo. Quem tem fobia social pode ter medo de falar, comer, telefonar, trabalhar ou escrever na frente de outras pessoas; pode também ter o receio de agir de forma ridícula, embaraçosa ou inadequada. Em seus variados graus de acometimento, a fobia social é uma condição bastante frequente na população, com início geralmente na adolescência, afetando homens e mulheres em igual proporção. Quando não tratada, tende a persistir e causar prejuízos nos mais diferentes aspectos (no trabalho e na sua relação social ou familair), levando a afastar-se das demais pessoas e a escolher atividades com pouca ou nenhuma interação social.


Diagnóstico: Geralmente apresenta ansiedade antecipatória ("sofrer por antecedência" ou "sofrer de véspera"), sintomas físicos, isolamento, baixa autoestima e medo de críticas. Sintomas físicos mais comuns: suor excessivo, tremor, rubor, palpitações, sintomas gastrointestiais, desconforto no estômago, diarreia, dor de cabeça, respiração ofegante, sensação de desmaio e vontade de urinar. A ansiedade ocorre principalmente ou exclusivamente em situações sociais, levando a pessoa a evitar locais ou contextos nos quais ela imagina que possa ser observada, avaliada ou criticada. O diagnóstico é feito por entrevista com médico psiquiatra, um importante elemento que pode identificar a presença de algum outro transtorno psiquiátrioco, podendo causar ou agravar os sintomas psicológicoss, físicos ou alterações do comportamento.


Tratamento: Feito pelo uso de medicamentos juntamente com psicoterapia. Os medicamentos geralmente prescritos são antidepressivos ou ansiolíticos; em alguns casos, betabloqueadores e anticonvulsivantes. A psicoterapia destina-se essencialmente a trabalhar o transtorno através do treino de habilidades sociais, mudanças de atitudes e reestruturamento da baixo-auto estima. De forma geral o tratamento pode ajudar as pessoas a se sentirem mais confiantes e seguras nas inúmeras situações sociais.


Até o próximo artigo,


Dr. Igor Emanuel


O normal e o patológico - 01/05/2013



Abaixo, excelente texto extraído do blog do Dr. Daniel Martins de Barros: 

Polêmicas sempre vêm da ignorância. Por uma questão lógica, se existe um conhecimento claro e certo não há espaço para polemizar. Se há debate é porque uma das partes (ou as duas) não sabe do que está falando.


No caso das acaloradas discussões sobre os diagnósticos psiquiátricos, elas ocorrem também por ignorância. Tanto dos médicos como dos críticos. Essa discussão normalmente têm o seguinte desenho: de um lado um grupo diz que os transtornos mentais são construções sociais, criados pelos médicos, e por isso não teriam validade; na outra ponta os profissionais da saúde dizem que isso é um absurdo, que há diversas provas de que essas doenças “existem” de verdade, são biologicamente identificáveis, e o diálogo descamba para bate-boca. O mais divertido é que os dois lados conseguem estar errados mesmo invocando argumentos verdadeiros. A ignorância que gera o debate aqui não é técnica, é filosófica.


Por isso é mais do quem bem vinda a iniciativa da editora Forense Universitária, que vem lançando a obra de Georges Canguilhem em português. Filósofo de formação, ele posteriormente decidiu estudar medicina, considerando-a um pouco mais “prática”, por assim dizer. Mas como um estrangeiro que traz um olhar renovado quado se muda para um país, uma vez formado médico Canguilhem trouxe para a área uma reflexão profunda e até certo ponto inédita. Sua tese de doutorado deu origem ao livro O normal e o patológico, relançado agora, que deveria ser leitura obrigatória em todas as faculdades de medicina. Provavelmente o debate sobre os diagnósticos psiquiátricos esfriaria bastante.


A genialidade de Canguilhem foi simplesmente ver o óbvio: a doença é não é uma entidade real, com existência por si só, independente do seu contexto. As variações para mais e para menos que a biologia impõe às nossas funções fisiológicas, à nossa anatomia etc. só adquirem o caráter de patológicas quando, na interação daquele ser com seu meio, elas se tornam desvantajosas. Assim, o que seria o normal? Apenas a melhor solução encontrada pela natureza para o ser nas suas condições de vida. “Não existe fato que seja normal ou patológico em si.” afirma ele. “A anomalia ou mutação (…) exprimem outras normas de vida possíveis. Se estas normas forem inferiores, quanto à estabilidade, à fecundidade, à variabilidade da vida (…) elas são ditas patológicas. Se eventualmente essas normas se revelarem, no mesmo meio equivalentes, ou em outro meio superiores, elas serão ditas normais.”


Não é diferente com os transtornos mentais. Todos os critérios diagnósticos de qualquer natureza sempre levam em conta o impacto dos sintomas na vida da pessoa. Assim, não basta apresentar essa ou aquela característica “anormal”, esse ou aquele comportamento “estranho” – o sujeito só é dito doente quando sofre um prejuízo significativo em suas relações pessoais, em seu trabalho, na família. Ora, isso é exatamente o que Canguilhem propõe. E resolve muita polêmica em saúde mental.


Vejamos o caso do déficit de atenção. Os críticos dizem que é um diagnóstico da moda, só inventado pela pressão por desempenho que vivemos. Os médicos provam que há correlações biológicas claras, tanto anatômicos como neuroquímicas, que determinam a menor capacidade atencional. E então, é biológico ou social? Fica claro que são ambos: existe de fato uma variação individual na atenção e concentração, que é determinada biologicamente. Mas de fato é só por conta da sociedade que construímos, do mundo em que vivemos, da forma como as coisas são, que as pessoas com menor tempo de atenção sustentada acabam tendo prejuízos, por vezes bem sérios, em sua vida. Um homem das cavernas ligado nas distrações (e ameças) em volta e não apenas concentrado numa pintura rupestre talvez fosse considerado mais saudável do que o doente.

E agora? Como negar que seja doença? Como negar que seja construída?


Fonte: www.blogs.estadao.com.br/daniel-martins-de-barros/porque-falta-de-atencao-pode-ser-doenca

Entre o bom senso e o consenso: quando o tratamento pode ser uma escolha racional


É indubitável que o preconceito psiquiátrico ainda se afirma em nossa sociedade de forma incisiva e pungente. Não há glamour em padecer de qualquer patologia, seja ela psiquiátrica ou não, apesar dos modismos e alardeios da mídia e da sociedade como um todo em torno da saúde mental. Nesse contexto midiático há toda uma polêmica e, muitas vezes, polarização do discurso, seja no sentido de demonizar a psiquiatria, seja no afã de hipervalorizar sentimentos normais como “fora do lugar”. Entre a medicalização da dor humana genuína e fisiológica e a normalização do patológico como uma forma diferente de viver; do exagero na prescrição medicamentosa à omissão no negligenciar o sofrimento: em algum lugar entre os extremos do otimismo e pessimismo terapêutico deve repousar o bom senso.


O problema é que atingir o tal bom senso nem sempre é uma questão automática e intuitiva, ou seja, tentar atingir o equilíbrio de uma decisão racional é fruto do exercício de detida reflexão e não algo espontâneo. E como toda boa reflexão requer um debruçar sobre informações. Informações estas que ausentes podem criar ou perpetuar preconceitos ou polêmicas, conforme já discutido no texto anteriormente reproduzido, de autoria do Dr. Daniel Martins de Barros. No escopo do que foi trazido, fica a questão: com a enxurrada de informações proveniente da mídia, quase sempre repousando na parcialidade de suas ideologias editoriais, como é possível ao paciente decidir sobre o melhor caminho a percorrer? Seguirá ele o bom senso leigo, propalado não só pela mídia, mas também nos “comadrismos” e albergado pelo insuperável jeitinho brasileiro de resolver tudo da forma mais fácil, ou conselhos de um profissional que, de tão envolto em preconceitos, apenas com muito custo será ouvido?


Dessa forma, debruça-se aqui para discutir mais uma vez sobre a resistência dos pacientes às terapêuticas instituídas, para tentar desmistificar os medos provenientes da desinformação, invariavelmente preconceituosos e polêmicos. Dessa vez o que se traz à guisa de reflexão é notadamente a dificuldade de tomar medicamentos a longo prazo ou de seguir um tratamento psicossocial de forma prolongada, com fins de evitar danos futuros.


É comum entre os pacientes a desistência em poucas consultas, um abandono abrupto do tratamento ao achar que se encontra na sua condição de funcionalidade habitual, longe de suas mazelas psicopatológicas. Claro que seria uma simplificação absurda acreditar ser esta a única motivação para o abandono: as pessoas deixam de ir aos seus médicos também porque não melhoram, porque não gostaram do modelo de atendimento médico, por questões financeiras, por puro e simples desinteresse, entre outras centenas de causas possíveis. O que se quer aqui combater é o abandono-preconceito por desconhecimento dos fatos, desinformação. Que abandonem o tratamento psiquiátrico, que suspendam sua psicoterapia, mas que tal decisão seja pautada em uma escolha mais ou menos racional.


No rol de doenças conhecidas e mais estudadas no que tange ao tratamento de longo prazo tem-se a esquizofrenia, transtorno afetivo bipolar e depressão maior. Sobre esta última doença apresentar-se-á inicialmente alguns dados, justamente pela prevalência do transtorno na população geral. Em estudo de revisão de Geddes et al, em 2003, mostrou-se que o tratamento de continuação com os antidepressivos diminuíram o risco de recaída em 70% quando comparados com a descontinuação do tratamento. O efeito do tratamento persistiu em média por até três anos, apesar de a maioria dos estudos acompanhar os pacientes durante o período máximo de um ano. Para falar de uma medicação específica, tem-se que a fluoxetina, medicação lançada no mercado com o famigerado nome Prozac, mostrou eficácia no tratamento de longo prazo: em um estudo clássico de Montgomery et al, em 1988, foi realizado acompanhamento por seis meses e evidenciou-se que 74% dos pacientes utilizando a medicação permaneceram bem após melhora inicial, enquanto apenas 43% o fizeram ao utilizar placebo.


Não se pode furtar a comentar também alguns estudos sobre transtornos de ansiedade. Em estudo de Sotcchi et al, em 2003, tem-se, de forma resumida, que foram acompanhados quase 600 pacientes com transtorno de ansiedade generalizada, por 24 semanas, comparando dois grupos: o primeiro com 278 pacientes utilizando paroxetina, uma medicação utilizada para ansiedade, e o segundo com 288 pacientes utilizando placebo, um comparador sem efeito terapêutico. Esse estudo teve como resultado o fato de que os pacientes utilizando a medicação tiveram risco de 10,9% de recaída dos sintomas ansiosos, enquanto 39,9% dos paciente utilizando placebo recaíram no período estudado. Estatisticamente falando, há um risco cinco vezes maior de recaída quando se usa o placebo. Isso em um período de tempo relativamente curto, de seis meses.


Em outro estudo, este de 2005 e com acompanhamento de até 76 semanas, Allgulander et al demonstraram que o uso contínuo do escitalopram, outro fármaco bastante utilizado para o transtorno de ansiedade generalizada, levou a um risco quatro vezes menor de recaída quando comparado com o placebo (19%).


Seria possível estender a exposição de estudos para cada uma das doenças psiquiátricas, mas não sem se tornar enfadonho e repetitivo. O objetivo é ilustrar que a questão da escolha pelo tratamento prolongado perpassa também pela evidência científica sólida e não somente por fatores de cunho individual (preconceito, expectativas quanto ao tratamento, impossibilidade econômica, efeitos colaterais, influência da mídia e da população em geral, etc). Os aspectos pessoais também são importantes, mas não devem ser solitários nesse processo decisório.


Em suma, considerando-se a complexidade dos múltiplos fatores envolvidos na opção de tomar ou não medicações por longo prazo, pode-se afirmar que a questão passa longe do simples bom senso. Demasiada distante do “bom senso” dos informes da mídia, das influências leigas (muitas vezes providas das melhores intenções) e do preconceito, este sim sem senso.  No meio do caminho pode-se afirmar que há, sim, certo consenso, embasado no que a ciência tem a propor enquanto conhecimento sedimentado em um saber razoavelmente confiável.  

E entre a busca do bom senso através do consenso há um mediador: o médico psiquiatra, habilitado e disposto a discutir sobre a interface entre aquilo que é científico, numérico e geral, e entre aquilo que é a subjetividade do paciente que a ele se apresenta, com suas dores muito únicas e seus problemas individuais a serem sanados. É nessa relação que, de uma forma ou de outra, deve repousar algum bom senso terapêutico.


E a questão da psicoterapia a longo prazo? Bem, essa discussão fica para os próximos textos!


Até o próximo artigo,


Dr. Igor Emanuel